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Não é uma novidade. Todo mundo tem, mas não para fazer a diferença.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Um Poema.

nem sempre somos aquilo que esperamos.
as vezes de lua, as vezes de pronto.
um amante ideal desde novo,
um amor antigo esquecido.
uma idade mal preparada desde a juventude,
tecnicamente uma pessoa já perdida.
já ouvi falar que esperança é a ultima que morre,
assim espero que seja.
quando a fase adulta começa,
as pessoas acham que devem rejuvenecer...
tecnicamente a idade corresponde a sua felicidade.
se ela for de prantos, envelhecida sua alma parecerá.
se for de sorrisos, brevemente rejuvenecerá.
viva de alegrias, felicidades, saúde e paz...
se de tristezas viver, também estará bom...porém seria melhor que fosse de amor.
cuja dor desaparece, mesmo deixando cicatriz.
felicidade está nas coisas simples da vida.
até mesmo no seu cobertor ou manta, cujo valor de te esquentar, faz com que não passe frio.
hoje num mundo capitalista até o amor é comprado.
antigamente era uma coisa sincera. 'te amo' nao era pra qualquer um.
o senso de ser simples, é ser incrível.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Amor é Prosa; Sexo é Poesia

Sábado, fui andar na praia em busca de inspiração para meu artigo de jornal. Encontro duas amigas no calçadão do Leblon:
- Teu artigo sobre amor deu o maior auê... – me diz uma delas.
- Aquele das mulheres raspadinhas também... Aliás, que você tem contra as mulheres que barbeiam as partes? – questiona a outra.
- Nada... – respondo. – Acho lindo, mas não consigo deixar de ver ali nas partes dessas moças um bigodinho sexy... não consigo evitar... Penso no bigodinho do Hitler, do Sarney... Lembram um sarneyzinho vertical nas modelos nuas... Por isso, acho que vou escrever ainda sobre sexo...
Uma delas (solteira e lírica) me diz:
- Sexo e amor são a mesma coisa...
A outra (casada e prática) retruca:
- Não são a mesma coisa não...
Sim, não, sim, não, nasceu a doce polêmica ali à beira-mar. Continuei meu cooper e deixei as duas lindas discutindo e bebendo água-de-coco. E resolvi escrever sobre essa antiga dualidade: sexo e amor. Comecei perguntando a amigos e amigas. Ninguém sabe direito. As duas categorias trepam, tendendo ou para a hipocrisia ou para o cinismo; ninguém sabe onde a galinha e onde o ovo. Percebo que os mais “sutis” defendem o amor, como algo “superior”. Para os mais práticos, sexo é a única coisa concreta. Assim sendo, meto aqui minhas próprias colheres nesta sopa.
O amor tem jardim, cerca, projeto. O sexo invade tudo isso. Sexo é contra a lei. O amor depende de nosso desejo, é uma construção que criamos. Sexo não depende de nosso desejo; nosso desejo é que é tomado por ele. Ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre de tesão. O sexo é um desejo de apaziguar o amor. O amor é uma espécie de gratidão posteriori pelos prazeres do sexo.
O amor vem depois, o sexo vem antes. No amor, perdemos a cabeça, deliberadamente. No sexo, a cabeça nos perde. O amor precisa do pensamento.
No sexo, o pensamento atrapalha; só as fantasias ajudam. O amor sonha com uma grande redenção. O sexo só pensa em proibições: não há fantasias permitidas. O amor é um desejo de atingir a plenitude. Sexo é o desejo de se satisfazer com a finitude. O amor vive da impossibilidade sempre deslizante para a frente. O sexo é um desejo de acabar com a impossibilidade. O amor pode atrapalhar o sexo. Já o contrrário não acontece. Existe amor sem sexo, claro, mas nunca gozam juntos. Amor é propriedade. sexo é posse. Amor é a casa; sexo é invasão de domicílio. Amor é o sonho por um romântico latifúndio; já o sexo é o MST. O amor é mais narcisista, mesmo quando fala em “doação”. Sexo é mais democrático, mesmo vivendo no egoísmo. Amor e sexo são como a palavra farmakon em grego: remédio e veneno. Amor pode ser veneno ou remédio. Sexo também – tudo dependendo das posições adotadas.
Amor é um texto. Sexo é um esporte. Amor não exige a presença do “outro”; o sexo, no mínimo, precisa de uma “mãozinha”. Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até mas sozinhos, na solidão e na loucura. Sexo, não – é mais realista. Nesse sentido, amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. Amor muitas vezes e uma masturbação. Seco, não. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora, o amor vem de nós e demora. O sexo vem dos outros e vai embora. Amor é bossa nova; sexo é carnaval.
Não somos vítimas do amor, só do sexo. “O sexo é uma selva de epiléticos” ou “O amor, se não for eterno, não era amor” (Nelson Rodrigues). O amor inventou a alma, a eternidade, a linguagem, a moral. O sexo inventou a moral também do lado de fora de sua jaula, onde ele ruge. O amor tem algo de ridículo, de patético, principalmente nas grandes paixões. O sexo é mais quieto, como um caubói – quando acaba a valentia, ele vem e come. Eles dizem: “Faça amor, não faça a guerra”. Sexo quer guerra. O ódio mata o amor, mas o ódio pode acender o sexo. Amor é egoísta; sexo é altruísta. O amor quer superar a morte. No sexo, a morte está ali, nas bocas... O amor fala muito. O sexo grita, geme, ruge, mas não se explica. O sexo sempre existiu – das cavernas do paraíso até as saunas relax for men. Por outro lado, o amor foi inventado pelos poetas provinciais do século XII e, depois, revitalizado pelo cinema americano da direita cristã. Amor é literatura. Sexo é cinema. Amor é prosa; sexo é poesia. Amor é mulher; sexo é homem – o casamento perfeito é do travesti consigo mesmo. O amor domado protege a produção. Sexo selvagem é uma ameaça ao bom funcionamento do mercado. Por isso, a única maneira de controla-lo é programa-lo, como faz a indústria das sacanagens. O mercado programa nossas fantasias.
Não há saunas relax para o amor. No entanto, em todo bordel, FINGE-SE UM “AMORZINHO” PARA INICIAR. O amor está virando um “hors-d’oeuvre” para o sexo. O amor busca uma certa “grandeza”. O sexo sonha com as partes baixas. O PERIGO DO SEXO É QUE VOCÊ PODE SE APAIXONAR. O PERIGO DO AMOR É VIRAR AMIZADE. Com camisinha, há sexo seguro, MAS NÃO HÁ CAMISINHA PARA O AMOR. O amor sonha com a pureza. Sexo precisa do pecado. Amor é o sonho dos solteiros. Sexo, o sonho dos casados. Sexo precisa da novidade, da surpresa. “O grande amor só se sente no ciúme” (Proust). O grande sexo sente-se como uma tomada de poder. Amor é de direita. Sexo, de esquerda (ou não, dependendo do momento político. Atualmente, sexo é de direita. Nos anos 60, era o contrário. Sexo era revolucionário e o amor era careta). E por aí vamos. Sexo e amor tentam mesmo é nos afastar da morte. Ou não; sei lá... e-mails de quem souber para o autor.

Arnaldo Jabor

Receita da Amante Ideal

Do ponto de vista poético, jamais saberia definir a amante ideal, nem sequer a namoradinha descompromissada, da qual Pablo Neruda e Vinicius de Moraes, cada um a seu modo, cantaram o gesto, a graça e a glória. Tampouco saberia porduzir em ensaio moral (ou amoral) sobre a dita amante - e tremo em pensar que jamais haverá a amante ideal, pelo menos como a desejamos.
Mas há. Ao longo de alguns anos no exercício do duro ofício de homem, cruzei e descruzei com mulheres, amantes umas, amadas outras - todas deram problemas, espantos e triunfos. No calor do momento, todas pareciam únicas, primeiras e eternas, o que é uma banalidade da carne, da nossa carne e do nosso espírito. Cada qual tem seu gosto, sua cólera, seu roteiro de prazer e dor.
Como Siegfried, que, para se tornar imortal, banhou-se no sangue do dragão, mas uma folha caiu em suas costas e este ponto ficou vulnerável ao dardo mortal, mulher é um Siegfried andrógino; todas têm um ponto oculto, vulnerável, decisivo.
Mas a amante ideal existe. Pelas leis do mundo, que costumam ser cruéis para homens e mulheres, é possível que, no rolar das pedras, a cada homem caiba apenas uma única amante ideal, por mais que sua experiência e fome sejam extensas e fundas.
Ela não será bela, necessariamente, pois a beleza jamais será fundamental.
Ela será gostosa - não no sentido grosseiro da boazuda, mas feita ao "gosto" de nossos sentidos e apetites. Terá em síntese, às vezes de forma incompleta, tudo o que procuramos e perdemos em outras mulheres. Será honesta, mas não muito, o suficiente para, quando nos trair, deixar bem claro, a nós e ao outro, que o dono, o deus e o escravo delas continua o mesmo, ou seja, nós.
Voltará sempre e sempre perdoará até mesmo as nossas cachorradas. Será um pouco masoquista e em silêncio assumirá a sua condição de amante ideal, pagando o preço de tudo, mas jamais esquecendo as injúrias, não as graves, que jamais serão esquecidas, mas as banais, que juntas farão em sua carne uma mistura de raiva e desejo, fome a nos devorar com a pérfida boca da vingança - e, aí sim, ela encontrará sabedoria e calma para esquecer.
A amante ideal terá, mais ou menos, de oito a 12 anos menos que seu amo e senhor. Nem muito moça para os desvios do gosto e do jeito nem muito velha para lembrar - a nós homens - as mulheres que não deram certo. Pois a amante ideal sempre dará certo.
Um dia, descobriremos que a desejamos espantosamente, de 15 em 15 dias, de mês em mês, até que o tempo passou, 15 anos ou mais, e ela sobreviveu com sua força e sua tenacidade às duas ou três mulheres que durante o período passaram pelas nossas vidas, deixando escombros em nossa carne e no orgulho dela. Com o tempo, a amante ideal falará dessas mulheres em tom neutro, poderá repetir em causa própria o velho ditado machista segundo o qual o que é do homem o bicho não come.
A amante ideal sabe que tem a sua hora e vez. E espera. Saber esperar é o diferencial que torna a mulher verdadeiramente ideal, pois as outras mulheres nunca esperam, ao contrário, desesperam-se e partem para as cobranças abomináveis, alusões torpes, reivindicações mesquinhas. Quanto mais amaram ou pensaram que amaram, mais se tornam abomináveis nas cobranças e mesquinhas nas vinganças todas.
Ela mesma já está resignada a ser amante ideal, e nada pede, nada reclama. É paciente, humilde e laboriosa. Conhece nossas fraquezas, nossos medos, nossas misérias, Sobretudo nossas misérias. É a única que observa, com neutralidade: "Você hoje está muito abatido." As outras mulheres, quando pronunciam essa mesmíssima frase, estão sendo oblíquas, na verdade estão insinuando que gastamos nossas energias com outras.
A amante ideal terá sempre na bolsa o lencinho de papel que limpará nosso rosto de batom - mesmo quando o batom for de outra mulher. E quando estivermos tristes, mas tristes de não ter jeito, ela não perguntará por que e ficará triste também, só que sabendo por que ficou triste de repente.
Ventos, tufões, ventanias, coriscos, terremotos, convulsões da terra, da carne e da alma, tudo o que varre e destrói o homem tem na amante ideal o sismógrafo que registra a catástrofe. Ela se considera dotada de um sentido especial para prever essas confusões, mas ela está, a amante ideal, pronta para dizer: "Já passou." Ou o melhor: "Eu estou aqui!" Em certo sentido, nós somos um Jesus Cristo e a sua mulher é o nosso Roberto Carlos sempre à disposição.
Mas a amante ideal é sobretudo a mulher que não precisamos compreender, pois ela se compreende por nós e por ela. É como as coisas que sempre temos e nunca sabemos que temos. Não se esgota nunca e, quando nos surpreende fatigados, exaustos de outros fracassos, ela ali está, pronta, lúcida o bastante para saber cobrar a sua hora e nos ensinar o orgulho de a termos com a humildade que só ela nos pode dar.



Carlos Heitor Cony
Anos 2000
Livro: As Cem Melhores Crônicas Brasileiras